sexta-feira, 31 de agosto de 2018

                     Vimaranenses nos campos de concentração nazis 
    
  Narciso Machado
(Juiz desembrgador jubilado)

Os primeiros campos de concentração nazis foram construidos na Alemanha, em março de 1933, logo após Hitler se tornar Chanceler e o seu partido nazi tomar o controlo da polícia pelas SS, de Heinrich Himmler.
Depois de 1939, com o início da 2ª Gerra Mundial, os campos de concentração tornaram-se lugares onde milhões de pessoas foram escravizadas, como parte do esforço de guerra nazi, quase sempre passando fome, torturas e assassinatos. Foram construidos para distintas finalidades: para trabalho escravo, para detenção de pessoas consideradas inimigas do Estado e como centros de extermínio em massa. Para tornar o assassinato em massa mais rápido, foram construidas as câmaras de gás. Quando os prisioneiros chegavam, todos os seus bens eram confiscados, os seus cabelos cortados (rapados), recebendo um número de registo, sendo que a partir de 1943 passaram a ser tatuados nas pernas.  
O maior campo de extermínio foi o de Auschwits-Birknau (Polónia), que no começo de 1943, já possuia quatro câmaras de gás. Aqui quase todos os deportados (a maior parte judeus) que chegavam eram enviados para morrer nas câmaras de gás, à exceção de alguns (poucos) que eram escolhidos para trabalhar nas equipes de trabalho.
A libertação dos campos de concentração foi levada a cabo pelas forças aliadas, entre 1944 e 1945.
Durante muitos anos pensou-se não ter existido portugueses nos campos de concentração nazis, certamente devido ao facto de Portugal se manter neutro durante a guerra de 1939-1945, que desvastou a Europa pela segunda vez no mesmo século. Porém, não se teve em conta os portugueses emigrados, sobretudo para França, aí sofrendo o efeito da ocupação, dos bombardeamentos e das prisões, quando ali chegaram as tropas de Hitler.
 Investigações relativamente recentes conseguiram identificar pelo menos 49 pessoas, nascidas em Portugal, que acabaram por ser deportadas de França para os vários campos de concentração nazis. Entre eles encontram-se quatro vimaranenses: Luis Ferreira, José de Abreu, Francisco Ferreira e Pedro Pereira. 

   1 - Luis Ferreira, nasceu a 18 de outubro de 1902, na freguesia de São Paio de Figueiredo, Guimarães. Os pais (Lourenço Ferreira Martins e e joana de Oliveira), em determinada altura, mudaram-se com a família (6 filhos) para a freguesia Airão, Santa Maria. Em 1932, já Luis militava no partido comunista francês, sendo sindicalista até morrer, em 1991, em Lyon, solteiro e sem filhos. Em1936 partiu como voluntário para a Guerra Civil de Espanha.
É sobre Luís Ferreira, denominado o comunista, que se conhecem mais dados, obtidos pela investigadora, Patrícia Carvalho, jornalista do Jornal Público, no seu livro Portugueses nos Campos de Concentração Nazis-editora Vogais - 2015”, através de documentos e de uma sobrinha do Luis Ferreira, Maria Amélia Martins, residente em Joane - Famalicão. (cf. ainda Portugueses no Holocausto - Esther Mucznik - 2012; e Salazar, Portugal e o Holocausto - 2013 - Irene Flunser Pimentel e Claudia Ninhos).
A 31 de julho de 1944, sai de Toulouse um comboio com cinco homens nascidos em Portugal que encontrarão destinos muito diferentes. Um deles era o vimaranense Luis Ferreira. Foi deportado para o campo de concentração de Buchenwald, como prisioneiro político, a 31 de julho de 1944, registado com o número 69369.
 Buchenwald (Alemanha), para onde Luis foi deportado, tornou-se o maior campo de concentração dentro da Alemanha, atingindo 136 subcampos e a detenção de 250.000 pessoas, dos quais 56.000 terão morrido. Nele encontravam-se comunistas, membros da Resistência, testemunhas de Jeová, criminosos comuns, homossexuais e, mais tarde, ciganos e judeus. Funcionou entre julho de 1937 a abril de 1945.
   Transformado em memorial, no portão de entrada do campo ainda se encontra a frase “Jedem Das Seine” (a cada um o que lhe é devido), bem como um relógio, na torre de entrada, parado nas 15,30 horas, altura (11 de Abril de 1945) em que os prisioneiros se aperceberam da chegada das tropas americanas e se revoltaram. Nele ainda se encontram as celas onde os prisioneiros eram enforcados ou mortos com um tiro na nuca e o poste onde eram dependurados. Outros horrores, dificilmente compreensíveis, são descritos pelos investigadores ou verificados por quem visita os campos, sobretudo o de Auschwits.   

2 - José Abreu nasceu a 15 de feveeiro de 1920, em Guimarães. Foi deportado a 29 de junho de 1944 para Dachau, onde era prisioneiro nº 75.704. Foi transferido para Flossenburg e para o subcampo de Leitemeritz e libertado aqui a 8 de maio de 1945. Era membro da Resistência e participara num assalto a uma carrinha celular alemã, ainda em 1943, com o intuito de libertar outros resistentes. Foi preso e posteriormente deportado.
  Dachau (Alemanha), para onde José de Abreu foi deportado, era destinado, no princípio, a presos políticos. 200.00 prisioneiros de toda a Europa terão aí e nos seus subcampos, entre 1933-1945, sido internados, sendo que destes, 41.500 terão morrido. Um dos dois comboios que partiram de Compiègne, o que saiu a 2 de julho de 1944 ficou conhecido como “Comboio da Morte” devido às condições miseráveis a que os prisioneiros foram sujeitos, centenas deles acabando por morrer. No outro comboio, que partiu a 18 de Junho de 1944, com 2143 prisioneiros, seguiam 4 portugueses. Este campo funcionou de março de 1933 a 1945.

3 - Francisco Ferreira nasceu a 13 de outubro de 1916, em Guimarães. Foi detido, primeiro na prisão de Krefel e enviado, depois, em data desconhecida, para o campo de Sachsenhausen, onde recebeu o nº 103.063. Passou por Neuengamme e, por fim, Bergen-Belsen, onde morreu já depois da libertação do campo.

4 - Pedro Pereira nasceu a 24 de agosto de 1913, em Guimarães. Foi deportado para o campo de concentração de Sachsenhausen num comboio que deixou Compiègne a 28 de abril de 1943. O comboio transportava homens e mulheres, em vagões distinto, que apenas se separariam à chegada a Berlim, sendo que as mulheres seriam enviadas para Ravensbruck. Naquele campo era o prisioneiro nº 64.738. Segundo a investigadora Patrícia Carvalho, Pedro Pereira terá sobrevivido à guerra e regressado a França, passando antes pelos subcampos de Heinekel e Klinker.
Sachsenhausen, perto de Berlim, para onde Francisco Pereira e Pedro Pereira foram deportados recebeu mais de 200.000 prisioneiros. Milhares deles morreram de fome e de doença em consequência de trabalhos forçados, de execuções ou vítimas das chamadas marchas forçadas. Este campo foi libertado a 22 de abril de 1945 pelas tropas soviéticas e polacas. Funcionou entre 1936 a 22 de abril de1945.

Em conclusão dir-se-á que as investigações já efetuadas permite perceber que a neutralidade de Portugal na 2ª Guerra Mundial não conferiu qualquer proteção a estes vimaranenses e aos restantes portugueses que passaram ou morreram nos campos de concentração nazis. E durante todos estes anos tem reinado um profundo silêncio dos nossos governantes” sobre a matéria. Resta ao executivo municipal vimaranense, corrigindo esta injustiça, perpetuar, em memorial, estes vimaranenses que passaram pelos campos de concentração nazis. 
 

                        Comemoração da fundação de Portugal


     Narciso Machado
(juiz desembrgador jubilado)


“De Guimarães o campo se tingia
Co`sangue próprio da intestina Guerra
Onde a mãe, que tão pouco o parecia,
A seu filho negava o amor e a terra.
Com ele posta em campo já se via,
E não vê a soberba o muito que erra
Contra Deus, contra o maternal amor,
Mas nela o sensual era maior”.
 (Camões -  in  Os Lusíades .canto III-31)


       “Era de 1166 (1128) : no mês de junho, festa de S. João Batista, o ínclito infante Afonso  travou com eles, indignos  estrangeiros da nação, combate no campo de S. Mamede, próximo do castelo de Guimarães .Venceu-os e prendeu-os na sua fuga…” (In “Crónica dos Godos”- fins do sec. XII).

       Num feriado apenas municipal, os vimaranenses comemoram mais um aniversário da Batalha de S. Mamede, ocorrida no dia 24 de Junho de 1128 (da era cristã) e considerada como o primeiro ato da Fundação de Portugal, já que a derrota do infante Afonso, nessa batalha, representaria a perda, sem remissão, da causa nacional. Em aniversários anteriores, abordei a figura de D. Afonso Henriques, como militar e político (PUBLICO – 10.6.15). Agora pretendo recordá-lo como “pio, beato e santo” e como diplomata. Recorde-se que os monges de Santa Cruz de Coimbra e de Alcobaça, cujos mosteiros D. Afonso Henriques ajudou a fundar, sempre assumiram a incubência e a responsabilidade de cultivar a sua memória, promovendo a sua beatificação junto da Cúria Romana. Em 1728, o padre José Pinto Pereira publicou, em Roma, um livro a que chamou “Apparatus Historicus…” onde apresenta dez argumentos para comprovar a santidade de D. Afonso Henriques., obtendo o apoio do rei D. joão V. A esta face acumula-se uma outra, igualmente importante: a de diplomata.
    O Vaticano foi o primeiro Estado a reconhecer Portugal como uma nação independente. Tal facto deve-se a D. Afonso Henriques e à sua diplomacia. Na verdade, além de um exímio militar e político, D. Afonso Henriques foi também um excelente diplomata. Na tentativa de se libertar dos laços de vassalagem que o ligava a Leão e Castela e obter a garantia e consolidação do Reino, o nosso primeiro monarca promoveu imensas diligências no sentido da constituição de uma vassalagem ao Papa Inocência II, o que fez em 1143, nas mãos do Cardeal Guido de Vico, encomendando  o território português a S. Pedro e à Igreja Romana.  
 Documentando esse ato de enfeudamento, D. Afonsdo Henriques dirige à Cúria Romana, em 13 de Dezembro de 1143, a carta Claves Regni Coelorum, prometendo um tributo anual de quatro onças de ouro, mas pondo como condição de “gozar da proteção papal, para si a para a dgnidade e categoria de reino e não reconhecer qualquer senhorio espiritual ou temporal, exceto o papa e seus delegados. Na conquista do reconhecimento papal da independência do reino, D. Afonso Henriques teve a ajuda preciosa do arcebispo de Braga, D. João Peculiar, que chegou ir a Roma umas seis vezes.
      D. Afonso Henriques promoveu, simultaneamente, a constituição de uma Igreja nacional dependente da primazia bracarense e não de Toledo. Nessa altura, a Cúria Romana dava a D. Afonso Henriques o título de “dux”. Apenas em 1179, no pontificado de Alexandre III, é que a existência do reino de Portugal e a dignidade real de D. Afonso Henriques foram reconhecidas pela bula “Manifestis Probatum est”, emitida a 23 de Maio daquele ano. Por este diploma, o Papa Inocência III, “considerando D. Afonso Henriques pessoa provida de prudência e dotado de justiça e idóneo para um governo de um povo, aceita-o, e aos seus sucessores, sob a proteção papal e de S. Pedro, com a dignidade do reino, com todas as terras que, com o auxílio da Graça Celeste, ganhar aos sarracenos…”                                                                                       
   Com se vê, pelo citado documento, D. Afonso Henriques passou a ser considerado rei e Portugal um reino independente. Por esta razão, a comemoração da Batalha de S. Mamede, representando a fundação de Portugal, bem merecia um feriado nacional, facto que os vimaranenses reclamam há longos anos e bem poderia ter o apoio da atual Presidente da República. 
                   O Santuário de Santa Maria de Guimarães   


Narciso Machado
(juiz desembargador jubilado)


 Num excelente artigo publicado na edição de 15.6.18 do jornal O CONQUISTADOR, pertencente à Colegiada de Guimarães, o Dr. Florentino Cardoso, ilustre advogado vimaranense, traçou o caminho a seguir para que a Colegiada de Nª. Srª da Oliveira se torne um santuário mariano nacional.
  Após definir o conceito de santuário e de apresentar oportunas considerações históricas, concluiu o texto apresentando alguns objetivos que, pela sua importância, cumpre agora recordar, embora de modo sumário:
   1 -abertura de um debate sobre o papel da Colegiada na vida cultural e religiosa vimaranense;
   2 - criar um plano estratégico de marketing destinado a transformar a Colegidada num importante ativo turístico religioso nacional;
3- Que nesse plano figure a retoma do perfil de santuário mariano de          
referência no espaço nacional.

  No elenco das medidas a tomar, o ilustre advogado destaca as seguintes:
  1-pedir ao Sr. Arcebispo de Braga (D. Jorge Ortiga) o reconhecimento e classificação da igreja de Nª Srª da Oliveira em santuário;
  2 - restaurar a invocação de Santa Maria de Guimarães;
  3 - estabelecer relações de amizade e cooperação com o santuário de Nª Srª da Conceição de Vila Viçosa;
  4 - intercâmbio de todas as venerações marianas do concelho;
5 - definição de um calendário religioso;
  6 - transformar o dia 24 de junho em feriado nacional.
  7 - celebrar o dia das Forças Armadas no dia 24 de junho;  
8 - Iniciar e manter ao longo da próxima década (até 2028) preparação das comemorações dos nove séculos da Batalha de S. Mamede”.

 Tendo em conta, a sugestão do debate público proposto pelo Dr. Florentino Cardoso, o título do presente artigo está já pensado na restauração do nome de Santa Maria de Guimarães, cujas origens remotam a meados do sec. X, quando Mumadona Dias, dama mais rica e poderosa do noroeste peninsular, tia do rei Ramiro II de Leão, fundou o mosteiro dúplice (frades e freiras) na “quintana de vimaranes”, dedicado a Salvador do Mundo, à Virgem Santa Maria e aos Apóstolos. Entre 1107 e 1110, o mosteiro foi convertido em Colegiada, nome derivado da palavra latina collegium que significa a igreja não catedral que possuia cabido de cónegos, a que presidia o prior, podendo estar sujeita ao bispo ou ao rei (padroado real).
 Adjacente ao mosteiro, existia o santuário, que mais tarde o conde D. Henrique e sua mulher, D. Teresa, transformou em capela real e aí os condes assistiam aos ofícios divinos, como resulta da Vida de S. Geraldo (Vita Sancti Geraldi), relativamente à expulsão da “Ecclesia Vimaranesi” do militar que vivia em coabitação irreglar.
  Junto ao santuário de Santa Maria e do terreno limitado pelos muros e adro deste santuario existia o palácio real (palatium regale), onde nasceu o infante Afonso Henriques, em 1106 (ou 1109), sendo batizado na referida capela real.
A designação de Santa Maria de Guimarães esteve em vigor até 1342, altura do milagre da oliveira. Segundo o Livro dos Milagres de Nª Srª da Oliveira, Pedro Esteves, negociante vimaranense, por inspiração divina, terça-feira, 8 de outubro de 1342, colocou uma Cruz, adquirida na Normandia, ao lado de uma oliveira morta (seca), existente no adro da igreja de Santa Maria de Guimarães e, passados três dias, a oliveira reverdeceu miraculosamente.
 No “Livro dos Milagres de Nª Srª da Oliveira”, encontram-se registados quarenta e cinco milagres, ocorridos entre 8 de outubro de 1342 e 27 de março de 1343, portanto, realizados no curtíssimo prazo de meio ano. Os milagres desta “Coleção” foram reduzidos a escrito por Afonso Peres, tabelião de Guimarrães, entre 1342 e 1343. O primeiro milagre narrado neste livro é precisamente o respeitante ao milagre da oliveira reverdecida.
 A narração destes milagres contêm a presença de testemunhas por forma a que, “para além de acrescentarem solenidade ao ato, validam o auto pela sua presença e pelo seu estatuto social, autenticando-o e prestigiando-o”, com o objetivo de assumir foros de verdade (cf. Cristina Célia Fernandes - O Livro dos Milagres da Real Colegiada de Guimarães – Opera Omnia – 2006. Veja-se também o Doutor José Marques e Mons. José Lima de Carvalho, in Colegiada de Nª Srª da Oliveira - História e Património - edição da fábrica da freguesia).
 Os livros (coleções) dos milagres apareceram um pouco por toda a Europa com claros propósitos de propaganda, visando atrair peregrinos para o santuário onde eles alegadamente ocorriam.
 Estes “milagres”, especialmente o “milagre” da oliveira reverdecida, provocou um grande impacto junto das populações, aumentando consideravelmente o fluxo de romeiros à Vila de Guimarães, de tal modo que a designação de Santuário e Colegiada de Santa Maria de Guimarães passaram a ser designadas por Igreja e Colegiada de Nª Srª da Oliveira.
 Feito este enquadramento histórico, vejamos agora o enquadramento sócio- religioso.
Se quisermos aprofundar e compreender algumas das manifestações da religiosidade institucional e popular em vários momentos culturais mais importantes da vida da sociedade portuguesa, ao longo da nossa história, com toda a naturalidade se terá de explorar com maior intensidade e profundidade determinadas zonas da historiografia. 
   No âmbito da literatura medieval, os milagres ocuparam um lugar de destaque, sendo conhecidas as chamadas “Coleções de Milagres”, que demonstram o maravilhoso e o imaginário de toda a espiritualidade medieval, cujo objetivo essencial era promover a piedade e a difusão de determinado santuário, atraindo peregrinos.
     A Virgem Maria aparece-nos como medianeira e em lugar proeminente dentro da doutrina da salvação, a favor dos fieis, para obter de Deus, hierarquicamente superior a Maria, o desejado auxílio destinado a protegê-los contra os inimigos. Maria ocupa um lugar destacado, como Mãe do Redentor, presença inseparável de Cristo e, consequentemente, com a missão de santificar ou elevar alguém a uma relação mais próxima do sagrado.
Foi a influência do culto no Santuário de Santa Maria de Guimarães, considerado até ao sec. XVI um dos três mais célebres santuarios peninsulares (Guimarães, Compostela e Guadalupe) que a Vila se acrescentou e finalmente se unificou, na fusão dos seus dois e primitivos bairros medievais, criados a partir do mosteiro (vila de baixo) e do castelo (vila de cima).
 Vieram ali, em peregrinação devota, todos os reis portugueses da primeira dinastia e grande parte dos da segunda. Peregrino de relevo foi o monarca D. João I que veio a Guimarães em peregrinação, pouco depois da batalha de Aljubarrota (14.08.1385), para a agradecer à Virgem Santa Maria de Guimarães, a proteção e ajuda concedidas pela vitória na batalha. Fernão Lopes, reportando-se à peregrinação do monarca, refere que este fez a romagem a pé, espaço de 40 léguas”, nos seguintes termos:

 “Estando el Rei asi em Samtarem ... hordenou de partir daquela vila por comprir sua romaria que prometera amte que emtrase a batalha, a quoal hera que vencedoa como em Deus tinha esperamça, que fose a pee a Samta Maria d `Oliveira, que he na Vila de Guimarães, espaço de corenta leguas ... E daly levou seu caminho e acheguou ao campo onde ouvera a batalha (Aljubarrota), e aly ouvio missa e fez oração e começou a sua romaria. ( Cf. Crónica de D.João I, vol. II, LXI, 61 e 62).

   Camões, nos Lusíadas não se esqueceu de registar esta especial peregrinação (canto IV, est. 45):

             “O vencedor Joane esteve os dias
              Costumados no campo, em grande glória;
              Com ofertas, depois, e romaria
              As graças deu a Quem lhe deu vitória...”
     

Mas, além dos monarcas portugueses, de toda a Península ali ajoelharam senhores de alta linhagem e humildes romeiros de viva devoção. Desde o tempo de Mumadona (sec. X) até ao fim da renascença, foi elevado o número de romeiros que ali deixaram ricas ofertas a Santa Maria de Guimarães, fazendo da Colegiada a mais importante de Portugal. Assim, o Santuário de Santa Maria de Guimarães, de piedosa evocaçao da Oliveira, foi durante séculos a Fátima de Portugal. Existe, portanto, plena justificação para que a hierarquia da Igreja da diocese bracarense retome o nome de Santa Maria de Guimarães e proceda, formalmente, à qualificação da igreja em Santuário.
            Póvoa de Varzim, um concelho antitouradas

  
     Narciso Machado
(juiz desembrgador jubilado)
  
     Em nota publicada na sua página oficial, do passado dia 20/6, a Câmara Município da Póvoa de Varzim anunciou que, por deliberação aprovada por unanimidade, declarou o concelho povense “antitouradas”, com efeitos a partir de Janeiro de 2019, ficando, portanto, proibidas, a partir dessa data, as “corridas de touros ou outros espetáculos que envolvam violência sobre os animais”. Esta deliberação foi ratificada pela respetiva Assembleia Municipal. A praça de touros da cidade vai ser substituida por um pavilhão multiusus. Esta decisão aparece no seguimento da Câmara Municipal de Viana do Castelo que, em 2012, se tornou, formalmente, na primeira “Cidade Antitouradas” em Portugal.
 Razões filosóficas, racionais e morais justificam sobejamente o fim das touradas, suscetíveis de estimular os maus instintos. São cada vez mais os movimentos cívicos a pedir às entidades públicas para tomarem medidas eficazes na defesa dos animais, pretensões que vão tendo correspondência por vários municípios portugueses. Viana do Castelo e agora Póvoa de Varzim são um bom exemplo. Atualmente, embora não o declarem formalmente, são já muitas as Câmaras (vg. Guimarães) que seguiram o mesmo caminho e algumas associações de estudantes acabaram até com as garraiadas nas suas festas.
 O Partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), através do seu deputado (André Silva) à Assembleia da República, levou na agenda para o parlamento, além de outras iniciativas, o tema sobre a defesa intransigente dos direitos dos animais, pretendendo que a Constituição reconheça a sua dignidade, à semelhança do que acontece no Tratado de Funcionamento da União Europeia (TFUE), bem como a restrição relativamente à organização de touradas, proibindo menores de assistir a esses espetáculos
À decisão do executivo da Povoa de Varzim reagiu A Protoiro - Federação Portuguesa da Tauromaquia” alegando que “a tauromaquia é um traço centenário da cultura e identidade dos Poveiros e a sua praça um ex-libris.  A invocação da tradição para justificar esses entretenimentos cruéis é manifestamente inaceitável à luz dos valores atuais da nossa sociedade. Na verdade, sendo Portugal rico de tradições culturais, pretende-se que se reveja, não em atos bárbaros, mas cada vez mais nas suas ancestrais virtudes, na convicção de que somos apenas usufrutuários dum património cultural imaterial, com a obrigação de o transmitir aumentado e valorizado.      Mas, como é evidente, nessa valorização não pode caber, de modo algum, práticas de enorme violência só para mero divertimento. É que a todas as manifestações de cultura acumuladas, através das gerações, deve corresponder a tentativas de aproximação de valores ideais, nomeadamente lutar por um mundo livre de crueldade e violência gratuita contra animais indefesos, apenas para divertir.       
Recorde-se que o movimento “Abolição das Corridas de Touros” denunciou  que a “barbárie chega a tal ponto que os touros, quando saem das arenas, são metidos em camiões e ficam ali, por vezes até segunda-feira, que é quando são encaminhados para o matadouro. Não têm espaço para se deitarem, não bebem água e as bandarilhas são-lhe retiradas com ajuda de uma navalha”.
  Os estudiosos e investigadores, quando falam do significado e das origens da lide de touros, identificam-nas com os bárbaros espetáculos circenses da antiguidade. Outros autores, indo mais longe, reportam as suas origens a mitos religiosos e sacrifícios cruentos, de cariz pagão, de civilizações muito mais remotas.
  Uma medida importante contra as touradas foi a decisão do Parlamento Europeu ao aprovar uma proposta a impedir a utilização de fundos europeus para financiar touradas. Trata-se de uma excelente medida, que, por ir ao encontro da vontade de uma larga maioria dos cidadãos europeus e portugueses, deve merecer uma atenção muito especial do governo e das autarquias, já que é inaceitavel que fundos europeus sejam utilizados para financiar, direta ou indiretamente, uma atividade que explora o sofrimento animal para entretenimento. De acordo com artigo 13º do TFUE, aceite pelo Tratado de Lisboa, a “União e os Estados-membros deverão ter plenamente em conta as exigências em materia de bem-estar dos animais, enquanto seres sensíveis, respeitando simultaneamente as disposições legislativas e administrativas”. Daqui resulta o reconhecimento dos deveres de proteção e bem-estar dos animais por parte do legislador da UE e dos Estados membros.
Um estudo publicado em 2007 revelou que uma larga maioria dos portugueses não querem as corridas de touros em Portugal e muito menos transmitidas pela RTP, com o dinheiro dos contribuintes. Mais recentemente, A Plataforma Basta” divulgou, no passado dia 18/6, uma sondagem, segundo a qual 69% dos lisboetas discordam da realização de touradas no Campo Pequeno e não concorda com o apoio da autarquia a espetáculos tauromáquicos. Na sequência desta informação, o PAN pediu uma reunião com o presidente da Câmara, Fernando Medina (cf. PÚBLICO, 19.06.18).
   Espera-se que o movimento abolicionista, preocupado com o bem-estar animal e o sofrimento infligido aos touros, prossiga o seu caminho.




Os caminhos de Santiago de Compostela - a via Guimarães

 Narciso Machado

A história religiosa de Santiago de Compostela começa no dia 25 de julho do ano 813, altura em que o bispo de Iria Flávia, Teodomiro, anunciou a descoberta do sepulcro do Apóstolo no descampado próximo de San Fiz de Solovio, chamado Libere Donum, e que viria a transformar-se na cidade de Compostela, na Galicia. A notícia da descoberta propagou-se rapidamente por toda a cristandade.
Sobre o túmulo do Apóstolo foi construida uma modesta ermida que depois o tempo se encarregou de dar a feição monumental de catedral, transformando-a  em importante “centro da fé peninsular. Desde então, um movimento contínuo de peregrinos e viajantes manteve-se até hoje entre Compostela e o resto da Europa.
As atenções de vários papas contribuiram decididamente para esse efeito. O papa Alexandre VI, em 1499, a pedido dos reis católicos, Fernando e Isabel, criou a Confraria do Senhor Santiago que mais tarde, em 1942, Pio XII haveria de promover através da Arquiconfraria ad Honorem, declarada perpétua e elevando Compostela a “Cidade Santa”.” O papa Leão XIII, em novembro de 1884, através da bula Deus Omnipotens, proclamou a autenticidade das relíquias do Apóstolo Santiago Maior, exortando os bispos de todo o mundo a promoverem peregrinações a Compostela. Foi nesta altura que se vulgarizou o Caminho Jacobeo” e a oficialização das rotas com fins exclusivamente comerciais.          
Em 1954, João XXIII fez uma peregrinação ao lugar do túmulo do Apóstolo e, em março de 1975, Paulo VI, considerou Compostela o “Farol da Unidade”. No Ano Jubilar de 1982, o Papa João Paulo II, esteve presente em Compostela, numa concentração de jovens de todo o mundo.
A partir do século XII milhares de peregrinos cruzavam, a pé, os caminhos de toda a Europa, indo prestar devoção ao túmulo de S. Tiago, por vezes orientados pelas estrelas da Via Láctea, chamada, por isso, “Estrada de Santiago”.
  Do exposto resulta que, desde o século IX, se fixou na atual capital da Galiza, Santiago de Compostela, a sede universal do culto jacobeo, alterando completamente o mapa social, religioso e político de toda a Europa, sendo o roteiro mais antigo o que estabelecia a ligação entre Iria Flávia e Braga, apesar do Caminho Francês ter a fama de ser o mais antigo. Na verdade, o Caminho Português existe desde a descoberta das relíquias do Apóstolo. Nos princípios do século XIII, a designação de romeiro (o que ruma, o que vai em romaria a lugar santo) haveria de dar lugar à designação de peregrino, palavra derivada da expressão latina “per agros”, ou seja, a pé pelos campos.
O número de peregrinos atingiu o seu explendor, nos séculos XI e XII. Ao longo dos caminhos para Compostela existiam os albergues e hospitais para darem apoio aos peregrinos, sendo de salientar a fundação em Braga, entre 1129 e 1137, de um hospital e de uma albergaria junto à ermida do Espírito Santo, fundados pelo arcebispo D. Paio Mendes, bem como a albergaria de Nª Srª da Silva, na zona do Porto e outra albergaria para peregrinos jacobeos, ambas fundadas por D. Teresa (mãe de D. Afonso Henriques), que haveria de dar a origem a Albergaria - a - Velha.
 Entre os vários reis e outras figuras históricas que peregrinaram ao túmulo do Apóstolo enconta-se o Conde D. Henrique que tudo fez para reforçr o poder do arcebispo de Braga relativamente ao bispo de Compostela, obtendo para a Sé bracarense o estatuto de metropolitana.
   Os caminhos portugueses para Santiago de Compostela faziam-se por duas vias principais: Lisboa - Porto - Tui e Lamego - Chaves - Orense. A estas vias juntavam-se muitos caminhos secundários e entrecaminhos, através dos quais os peregrinos acediam a santuários de particular devoção. Entre os muitos peregrinos estrangeiros residentes em Portugal encontram-se Clenardo (1537), celebre humanista, que foi de Braga a Santiago e regressou por Valença, Ponte de Lima, Viana do Castelo, Barcelos, Guimarães. Outro estrangeiro foi Erich Lassota de Steblovo, oficial de armas de Filipe II (1581) que seguiu para Santiago utilizando o caminho a partir de Lisboa, Golegã, Tomar, Coimbra, Águeda, Albergaria, Oliveira de Azeméis, Gaia, Valongo, Alfena, Vizela, Guimarães, Braga, Ponte de Lima, Valença, Tui e Compostela. Outros peregrinos, vindos de Lisboa seguiram o caminho do Porto, Maia, Azurara, Vila do Conde, Rates, Correlhã, Ponte de Lima, Rubiães, Cerdal, Valença, Tui e Copostela. Outro caminho do litoral utilizava a via Viana do Castelo, onde, segundo as Cortes de Lisboa de 1459, havia “huu esprital pera os pelegrinos e romeeus que veem para Santiago”. Como se vê, entre Douro e Minho existia o caminho interior e o caminho litoral, ambos convergindo em Valença. No mapa dos itinerários jacobeos, a sul de Lisboa, encontram-se o caminho  sadino, o alentejano e o algarvio.
  No decurso dos caminhos para Santiago, os peregrinos faziam paragens ou pequenos desvios para rezarem em capelas devocionais ou importantes centros religosos, como, por exemplo, em Rates  ou no santuário de Santa Maria de Guimarães e na capela de Santiago.
  Saliente-se que o santuário de Santa Maria de Guimarães (Srº da Oliveira) e a capela de Santiagos foram os centros religiosos mais visitados pelos peregrinos que se dirigiam, em romaria, para Santiago de Compostela, de tal modo que o povo cantava o seguinte adágio popular:

“Quem for a Santiago e não visitar a Senhora da Oliveira, não faz romaria verdadeira”.

Neste acesso a Guimarães, foram importantes, na idade média, o ”caminho do Porto”, a “via Guimarães” e a “via Braga”. Assim, atendendo a que Santa Maria de Guimarães, cuja Colegiada é a mais antiga do país, se tornou um grande centro mariano e lugar privilegiado da peregrinação jacobeia, é natural que os peregrinos vindos do sul, ao chegar ao Porto se dirigissem para Guimarães, seguindo depois o caminho de Braga, Ponte de Lima e Valença. A rota do Porto para Guimarães fazia-se através da estrada romana/ medieval que começava na travesia do rio Douro, em Cale, dirigia-se para Valongo e Alfena, onde cruzava o rio Leça, na ponte de S. Lázaro. Entre este local e a ponte de Negrelos (Sto Tirso), contornava a meia encosta pelo monte, pela face oeste e norte e pelo maciço montanhoso de Monte Córdova, passando muito próximo do castro de Monte Padrão, rumando depois para S. Martinho do Campo (Santo Tirso), atravessando aí a  ponte de Negrelos sobre o rio Vizela  e daí para Guimarães.
Como se disse, para além do culto a Santa Maria de Guimarães, existia ali contígua a Capela de Santiago que os peregrinos, mesmo antes de chegar a Compostela, aproveitavam para prestar o culto ao Apóstolo. Essa capela, com culto até à sua demolição, em 1886, teve origem na doação de um campo aos irmãos francos Umberto, Gualter e Rberto, que os condes portucalenses, Henrique e Teresa, lhes fizeram, bem como a todos os franceses que viviam, no dizer do documento, “in villa de vimaranis”,  para que nele construissem uma capela para aí assistir aos ofícios divinos e aí serem sepultados.

 Refira-se, como parênteses, que o referido documento de doação encontra-se outorgado pelo conde D. Henrique e D. Teresa, com a data de 2 de janeiro de 1121, sendo que D. Henrique faleceu em 1112. Uma corrente historiográfica, por essa razão, aponta a data do documento no ano de 1111, como é o caso do historiador medievalista, A. de Almeida Fernandes (cf. Viseu, Agosto de 1109, Nasce D. Afonso Hnriques, p. 172, nota 30). No entanto, o diplomatista Rui Pinto de Azevedo, (especialista na crítica externa de documentos medievais, para verificação da sua autenticidade)  defende que a data de 1121 é a correta, explicando que a inclusão do conde D. Henrique na outorga e robora do documento, “talvez tenha sido efetuada com o propósito de lhe adicionar mais força e solenidade”. Sendo assim, a doação do campo para a construção da capela aos irmãos francos foi efetuada apenas por D. Teresa. Feito este parênteses, voltemos à rota jacobeia, para se concluir do segunte modo:  

 Nos últimos tempos a rota jacobeia tem ganho protogonismo, tranformando-se num importante itinerário espiritual e cultural, sendo que, em 1985, a Unesco declarou a cidade de Compostela Património Universal da Humanidade. Em 1987, o Conselho da Europa reconhece o Caminho de Santiago como “Primeiro Itinerário Cultural Europeu”. Em 1993 e 1998, os caminhos de S.Tiago tornaram-se Património da Humanidade, respetivamente, na Espanha e em França.  Relativamente a Portugal, apenas em 1993, Ano Santo do jubileu, foi atribuda ao nosso Presidente da República, no dia do Apóstolo, a medalha de ouro da  cidade de Compostela, o que é manifestamente pouco.

Por isso, vai sendo tempo que o mesmo reconhecimento de Património da Humanidade aconteça em Portugal, à semelhança de Espanha e França, pois, como se já referiu, o Caminho Português é roteiro mais antigo da Europa, existindo desde os tempos em que foram descobertas as relíquias da Apóstolo.                   
    
                                                                Bibliografia

  - Aberto Vieira Braga - Infuência de S. Tiago da Galiza em Portugal - Separata da Homenagem a Martins Sarmento, Guimarães, 1993. Reedição pela Casa Sarmento-1993.
  - Carlos Gil e João Rodrigues - Por Caminhos de Santiago (Itinerários potugueses para Compostela, Publicações Dom Quixote 1997
 - Ana Catarina Mendes- Peregrinos a Santiago de Compostela
 - Vitor Manuel Adrião - Santiago de Compostela- Mistérios da Rota Portuguesa, Dinapress - 2011.
- Marcelo Caetano- Caminho de Santiago, Caminhos de Portugal e de Espanha, Lisboa, 1970.
- Umberto Barraquero Moreno - Vias Portuguesas a Santiago de Compostela na Idade Média, Rev. Fac. de Letras, História, Lisboa 1986
 - Prof. José Marques - A Assistência aos Peregrinos no Norte de Portugal
-  Padre Hilário Oliveira da Silva - Capelas, Cruzeiros e Clamores no Arcebiprestado de Guimarães e Vizela.
 -   Rita Ribeiro  da Silva - A Minha Praça de S. Tiago - edição de autor -2012.
  - Narciso Machado - A Rede Viária Romana e Medieval no concelho de Guimarães - edição de autor -Gráfica do DM - 2012.

   


                 


                        
                                                                   Imagem de S. Tiago, com uma vieira ao peito
                                                                    e um bordão na mão, símbolos do peregrino.
                                                                     (Pintura de Carlo Crevelli -1480 - Wikipédia)

                                                                           
        O caminho  portugês de Santiago, “via Guimarães”.                



 
 Praça de S. Tiago, contígua ao Largo do Santuário de Santa Maria de Guimarães.
                                                             *   *    *
Mais ou menos no centro da praça, situava-se a capela dedicada ao Apóstolo, cujo desenho
da implantação se encontra registado no pavimento, colocado aquando da reabilitação
 da praça, pelo arquiteto Fernando Távora, nos finais da década de 1980.
   Destaca-se também no pavimento a Vieira, símbolo do santo peregrino e uma inscrição
retirada do foral concedido a  Guimarães pelo Conde D. Henrique e D. Teresa (1095/1096).
Porém,  Seria mais adequado que a frase fosse retirada da carta de doação de que se fala
no texto, outorgada aos irmãos franceses, Umberto, Gualtar e Roberto, que, como vimos,
 estão na origem da capela.